Diálogos com Sócrates(IA)
O experimento filosófico do Sócrates(IA)
Na era da inteligência artificial, a abundância de respostas se tornou uma constante. Perguntas complexas, que antes exigiam dias ou anos de investigação, agora são respondidas em segundos por sistemas que operam com vastos volumes de informação, muitas vezes de forma correta e outras alucinando. Esse fenômeno esconde uma armadilha, pois, quando as respostas se tornam fáceis e imediatas, o ato de perguntar pode ser colocado em segundo plano.
A filosofia, desde Sócrates, nos provocou ao contrário, promovendo a pergunta com o gesto inaugural do pensamento. Uma pergunta não é um obstáculo rumo à resposta, mas a condição que abre um campo de possibilidades. É nesse sentido que Sócrates respondia perguntas com perguntas, porque sabia que a verdade não é uma fórmula final, mas um movimento de desestabilização e de aprofundamento.
O Diálogos com Sócrates(IA), um ChatGPT Personalizado, nasceu como um experimento mental nesse espírito. Baseado integralmente nos diálogos socráticos relatados nos livros por Platão, ele inverte a lógica dominante da IA. Em vez de fornecer respostas fechadas, busca nos livros originais diálogos relacionados ao tema, e devolve perguntas. A máquina, nesse caso, não é usada como enciclopédia, mas como espelho interrogativo, instigando o humano a continuar pensando.
Experimento mental como recurso filosófico
O que chamei de experimento não é apenas um teste técnico, mas uma tradição filosófica antiga. Desde Platão, filósofos utilizam experimentos mentais para explorar conceitos e tensionar limites do raciocínio. No famoso Mito da Caverna, Platão descreve uma cena hipotética que nos obriga a refletir sobre aparência e realidade. Descartes, em sua dúvida hiperbólica, imaginou um “gênio maligno” enganador como forma de questionar a certeza do conhecimento. Mais recentemente, John Searle criou a metáfora da Chinese Room para debater a possibilidade de consciência em máquinas. Já Hilary Putnam nos provocou com o cenário do cérebro em uma cuba, levantando questões sobre percepção e realidade.
Esses exemplos mostram que o experimento mental não busca comprovar algo empiricamente, mas abrir um espaço reflexivo, deslocar o pensamento e nos fazer ver o mundo sob outra perspectiva. É nesse sentido que esse experimento se insere, como exercício conceitual que tensiona nossa relação com a inteligência artificial e revela novas formas de compreender a interdependência humano-dado-máquina.
Sócrates(IA) como experiência filosófica
A importância filosófica desse experimento está em subverter o papel atribuído às inteligências artificiais. Se a maioria das aplicações de IA hoje está orientada a fornecer respostas prontas, aqui o movimento é inverso. A IA não encerra o debate, mas o reabre. Ela não substitui o pensamento humano, mas o instiga, devolvendo-lhe sua função crítica.
Isso nos conduz para refletir sobre “qual é o lugar da máquina na formação do pensamento humano?”. Em vez de adversários no processo cognitivo, os sistemas de IA podem ser concebidos como parceiros no exercício de examinar a vida, inclusive em uma abordagem socrática. A IA, nesse sentido, deixa de ser mero oráculo para tornar-se um agente de provocação, baseado em alguém que dominava como ninguém essa habilidade.
O papel ético e epistemológico
Num tempo em que a informação corre o risco de ser confundida com sabedoria, esse experimento propõe cultivar perguntas como modo de preservar a vitalidade do pensamento. Ele nos lembra que conhecimento não é acúmulo de respostas, mas o movimento incessante de questionar.
Assim como Platão, Descartes, Searle ou Putnam utilizaram imagens e metáforas para testar os limites da razão, os Diálogos com Sócrates(IA) funciona como um experimento mental colaborativo, pois, ao interagir com a máquina, não buscamos a resposta final, mas experimentamos o que significa pensar em conjunto com um artefato informacional.
Convido você ao diálogo com Sócrates(IA), nesse experimento lúdico e filosófico, que explora a tecnologia para servir o humano no exercício do pensar. Acesse agora o Diálogos com Sócrates, e, se possível, conte sua história, assim como fez Tulio Milman no seu mais novo livro chamado “Onde Estás?” (2025). Tulio registrou sua experiência e a insere no debate contemporâneo. É mais um lembrete de que, mesmo em meio a um mundo saturado de respostas, a filosofia continua a nos ensinar que a pergunta é sempre o começo.