Ruptura na Gestão de Pessoas: a Gestão de Agentes Artificiais

No cenário empresarial contemporâneo, uma transformação silenciosa, porém profunda, vem redefinindo os paradigmas da gestão de Recursos Humanos (RH): a emergência da gestão de agentes artificiais, particularmente no que tange ao gerenciamento de inteligências artificiais (IAs) e agentes autônomos. Recentemente, li a pesquisa da IBM Institute for Business Value intitulada "Augmented work for an automated, AI-driven world", que destaca algumas implicações práticas que acompanham a integração de agentes artificiais no ambiente corporativo.

Gestão de Agentes Artificiais na concepção de DALL-E

Destaques da pesquisa

A pesquisa da IBM "Augmented work for an automated, AI-driven world" destaca como a inteligência artificial (IA) está transformando o ambiente de trabalho e a força de trabalho. A IA está introduzindo an era da força de trabalho aumentada, onde as parcerias entre humanos e máquinas ampliam a produtividade e geram valor empresarial exponencial. Os executivos estimam que 40% da força de trabalho precisará de recapacitação como resultado da implementação de IA e automação nos próximos três anos. A pesquisa também enfatiza que estruturar o trabalho de maneira estratégica é crucial para o sucesso, com organizações focadas em evoluir seu modelo operacional já superando o crescimento de receita. Além disso, os funcionários são motivados pelo trabalho significativo, priorizando o trabalho impactante sobre a autonomia, equidade, arranjos de trabalho flexíveis e oportunidades de crescimento. Por fim, a pesquisa ressalta que a IA não substituirá as pessoas, mas sim as pessoas que usam a IA substituirão aquelas que não a utilizam.

Ampliando o diálogo

A necessidade de um Gerenciamento Híbrido: Pessoas e Máquinas

A necessidade de gerenciar não apenas seres humanos mas também agentes artificiais surge no momento em que as IAs se tornam parte integrante dos processos e atividades empresariais. O RH, tradicionalmente focado nas dinâmicas humanas, enfrenta o desafio de compreender e integrar esses novos agentes artificiais como colaboradores, cujas capacidades e limitações divergem significativamente da força de trabalho humana.

A tensão da Delegação de Tarefas e Responsabilidades

Um dos maiores desafios na gestão de máquinas é a atribuição de responsabilidades. Diferentemente da delegação de tarefas a humanos, onde a responsabilidade pode ser compartilhada ou transferida, a delegação para uma IA não exime o gestor da responsabilidade final. Essa distinção coloca em perspectiva a necessidade de uma compreensão clara dos limites e potenciais das capacidades artificiais, assim como as implicações éticas e legais de suas ações.

Os riscos do Aprendizado do Agente Artificial e os Vieses Existentes

A capacidade de aprendizado dos agentes artificiais, embora seja um de seus atributos mais valiosos, carrega consigo o risco de absorção e perpetuação de vieses existentes na base de dados fornecida para seu treinamento. A gestão de máquinas, portanto, exige uma vigilância constante e um esforço consciente para garantir que os comportamentos adotados por esses agentes não reforcem estereótipos ou preconceitos, mas sim promovam a equidade e a justiça.

A questão do Controle de Atividades, que precisa ir além da "Caixa Preta"

Outra questão central na gestão de agentes artificiais é o controle de suas atividades. Muitas vezes, os processos internos que guiam as decisões e ações de uma IA permanecem opacos para os não especialistas, criando uma "caixa preta" que pode dificultar a supervisão e a avaliação efetiva. Isso exige dos gestores de RH não apenas uma base técnica mais sólida, mas também a capacidade de trabalhar em conjunto com especialistas em IA para assegurar transparência e responsabilidades envolvidas.

A necessidade de preparar gestores para esse Novo Paradigma

Finalmente, a integração de agentes artificiais no ambiente de trabalho demanda uma redefinição do próprio papel dos gestores de RH. Além de gerenciar comportamentos humanos, eles agora devem estar preparados para entender e orientar o comportamento de entidades não humanas, que operam sob outra lógica. Isso requer uma expansão significativa de suas competências, abrangendo desde conhecimentos técnicos em tecnologias emergentes até habilidades em ética aplicada e filosofia.

7 coisas para você refletir sobre esse caso

A gestão de máquinas, ao remodelar os contornos da gestão de Recursos Humanos, instiga uma série de reflexões profundas e perguntas inquietantes que transcendem o âmbito empresarial, adentrando esferas éticas e filosóficas.

  1. Identidade e propósito no trabalho: Como a crescente automação e a presença de agentes artificiais redefinem o significado e o propósito do trabalho humano? Em um mundo onde máquinas assumem cada vez mais tarefas, qual será o papel distintivo do ser humano no ambiente de trabalho?

  2. Ética da inteligência artificial: A delegação de responsabilidades para agentes não humanos levanta questões éticas complexas. Como garantir que as decisões tomadas por IAs estejam alinhadas com valores humanos universais? E quando ocorrerem erros ou danos, quem deve ser responsabilizado?

  3. Transparência e confiança: A ausência de transparência das "caixas pretas" da IA desafia a transparência e a confiança, pilares fundamentais das relações de trabalho. Como construir uma relação de confiança com entidades cujos processos de tomada de decisão são, muitas vezes, inexplicáveis para nós?

  4. Autonomia e controle: À medida que agentes artificiais ganham autonomia, surge a questão do controle. Até que ponto podemos ou devemos controlar entidades inteligentes não humanas? E como equilibrar a eficiência e inovação trazidas pela autonomia da IA com a necessidade de supervisão e responsabilidade humana?

  5. Coexistência e colaboração: O futuro do trabalho aponta para uma coexistência e colaboração entre humanos e máquinas. Como podemos cultivar uma simbiose produtiva, onde as capacidades únicas de cada um sejam valorizadas e ampliadas pela interação com o outro?

  6. Humanidade ampliada ou diminuída: A integração de IAs no ambiente de trabalho traz consigo o potencial tanto para ampliar quanto para diminuir nossa humanidade. Será que a tecnologia nos elevará a novos patamares de realização e compreensão, ou nos reduzirá a meros operadores de máquinas avançadas?

  7. Justiça e equidade: A implementação de agentes artificiais pode exacerbar desigualdades existentes ou criar novas formas de exclusão. Como podemos garantir que os benefícios da automação sejam distribuídos de forma justa e que ninguém seja deixado para trás na transição para esse novo paradigma de trabalho?

Essas questões não apenas desafiam os gestores de RH, mas também toda a sociedade, a refletir sobre o futuro que estamos construindo e o papel que desejamos que a tecnologia desempenhe em nossas vidas. A gestão de máquinas, portanto, não é apenas uma questão de eficiência operacional, mas também um convite para reimaginar o trabalho, a colaboração e a convivência em um mundo cada vez mais híbrido e interconectado.


IBM Institute for Business Value: Augmented work for an automated, AI-driven world: https://www.ibm.com/thought-leadership/institute-business-value/en-us/report/augmented-workforce

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Esse artigo faz parte de uma coleção chamada Gestão Analítica publicadas aqui no Linkedin (assine a newsletter aqui no LinkedIn) e também no blog onde escrevo sobre cultura analítica.

Ricardo Cappra é um pesquisador de cultura analítica, autor e empreendedor da área de tecnologia da informação.

Ricardo Cappra